Analogias
do Drama
Christian
Silva de Castro[1]
Em tempos nebulosos como os atuais
são necessários alguns questionamentos sobre o cenário que se apresenta diante
de nós. Cabem alguns esclarecimentos iniciais. Vivo no Rio Grande do Sul,
estado famoso pelo bairrismo – que aflora principalmente no mês de setembro – e
por uma tradição política que tem se mostrado cega aos seus efeitos a longo
prazo. A crise que assola o nosso estado atualmente e principalmente afeta o
cotidiano dos servidores não é novidade, apenas não era um assunto em voga,
semelhante a uma dor de dente que vamos tratando com analgésicos e paliativos
até ela se torne insuportável. Assim foi com a crise que diga-se de passagem não
é uma exclusividade pampeana.
Drama,
segundo a definição do dicionário algo que representa de maneira grave ou
patética as situações do cotidiano. O drama do funcionalismo público é mais
profundo do que os noticiários mostram e vai muito além do terrorismo econômico
que se tornou habitual ao fim de cada mês e vem atormentando a sanidade dos
trabalhadores gaúchos. Ora, agora fica claro como um trabalhador responsável
por manter uma família olha para sua conta de telefone – o mesmo se aplica à
agua, luz, alimentação, etc. – sem saber qual compromisso honrar primeiro, é no
mínimo grave a situação de impotência em que nos encontramos no início de cada
mês ao mesmo tempo em que é patética a postura de nossos governantes acerca
dessa situação.
Todavia, pretendo me deter no “drama”
do magistério que não é nenhuma novidade para sociedade e pode da mesma forma
que a crise econômica gaúcha ser associada aquela dorzinha de dente que está
sendo mantida dormente a base de paliativos. Desde o fim da década de 70 que a
professorada vai pra rua reivindicar seus direitos e tem, por vezes de forma
mais humilde, conquistado aquilo que busca. Falta, entretanto a compreensão e a
valorização que esta classe merece indo desde as camadas em que atua aos
governos que auxilia a formar. Obviamente, o processo é longo e demasiadamente
complexo para estas poucas linhas, mas teimo em dizer que reside na valorização
da classe do magistério (e primeiramente a compreensão dos professores que são
uma classe) a solução para a maioria dos problemas que assola nosso país.
As atuais medidas econômicas que o
governo pretende implantar vão reverberar ao longo dos próximos anos e retiram diversos
desses direitos adquiridos – em muito por esse pessoal que foi às ruas lá na
década de 70 - aos futuros funcionários
da máquina estatal. O abuso da falta de informação e principalmente da seleta
de informações que são divulgadas, fazendo que as agencias de noticias se
assemelhem aquelas mães que arrumam as crianças antes de um evento familiar
deixando-as completamente diferentes do que realmente são e nós somos os
parentes que recebem a visita a elogiam a criança bem aprumada. Urge a
necessidade de conhecermos as leis que são propostas e aprovadas, bem como,
quais às engrenagens que movem esta máquina cujo funcionamento, afeta a todos
nós trabalhadores e cidadãos do estado.
Outra analogia possível com a atual
situação que nos encontramos enquanto servidores e principalmente educadores da
rede pública estadual de ensino é aquela velha máxima da tempestade “depois da
tempestade, vem a bonança”. Pois bem, se as ditas leis forem aprovadas a tempestade que varre os
direitos adquiridos a duras penas pelo funcionalismo gaúcho (lembra daquele
pessoal lá da década de 70?) tende a se estender por um período indeterminado. E
o que podemos fazer? Ainda nas analogias, creio que pegar um guarda-chuva e uma
capa plástica não seja o suficiente. Precisamos ir além e da mesma forma que
Prometeu e contestar os “deuses” e utilizar o poder que é naturalmente nosso. É
chegada a hora de ocuparmos as ruas e principalmente fazer valer nossa voz
enquanto educadores e promover a formação do tão necessário senso crítico. Sem
balelas de partidos antagônicos e retrocessos históricos somos – ou deveríamos –
ser muito mais do que esse panen et circenses mostrado por aquela mídia que
apruma criancinhas.
É passada a hora dos profissionais
da educação, e demais servidores, se valorizarem enquanto base do funcionamento
estadual antes mesmo de clamarem por esta valorização. Temo, e acredito, que
enquanto essa tomada de consciência não aconteça às fileiras do funcionalismo
continuarão a ruir de dentro para fora em função de disputas partidárias e
correntes ideológicas que mais amarram do que guiam o rumo da caminhada. Medo?
Claro que temos. Coragem, somos obrigados a ter.
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